Por Ana Paula (Popy) Tozzi, CEO da AGR Consultores
Pela quinta vez consecutiva, a AGR Consultores esteve presente em um dos maiores eventos de tecnologia do mundo, o Web Summit. Realizado anualmente em novembro, o evento reúne startups do mundo inteiro e as maiores empresas de tecnologia do planeta, com o objetivo de vender ideias e captar investimentos. A pluralidade de temas da atualidade – saúde e bem-estar, varejo, esportes, mídia, marketing, cripto, web3, AI… – associada à inovação e às tendências de tecnologia, proporciona tudo que você precisa para estar antenado!
Vale lembrar que a principal característica do evento é proporcionar palcos abertos às opiniões diversas, pontos de vista diferentes e o que chamamos de “pontos e contrapontos” (veja nosso artigo de novembro 2022) provocando os participantes a refletirem e desafiarem suas verdades. Ou seja, um formato bem diferente da maioria dos eventos “enlatados” que participamos.
Esse ano, porém, o Web Summit foi rodeado de polêmicas antes, durante e depois do evento.
Antes – Paddy Cosgrave
Sexta-feira, 13 de outubro de 2023, Paddy Cosgrave CEO do Web Summit “tweeta” sua opinião sobre as operações militares israelenses na Faixa de Gaza e desencadeia uma onda de boicotes ao evento.
A primeira reação vem três dias depois do tweet. Israel, um dos principais polos da indústria global de tecnologia, cancela sua participação no evento. Tradicionalmente, Israel tem presença maciça nos corredores de startups que são apresentadas por lá. Além disso, sempre figura como finalista entre as startups que participam da premiação da melhor inovação ano.
Logo em seguida, um efeito dominó de reações: fundos de investimentos como Sequoia Capital, empresas de tecnologia como Meta, Google, IBM, Intel, Siemens, AWS e até a fabricante de iogurtes americana Chobani anunciam que não compareceriam ao evento. Finalmente, 3 dias depois do tweet “suicida”, em 21 de outubro, Paddy renuncia ao cargo e Katherine Maher assume como CEO.
Fica a dúvida: “será que esse Web Summit será bom ou morrerá?”.
Durante – Palcos esvaziados, bom público e foco em GenAI
Na noite de segunda, aconteceu a tradicional abertura do evento, com atraso de quase 2 horas para iniciar, após diversos protestos do público que lentamente lotou o Centre Stage. Mesmo que em 2022 tenha ocorrido um atraso de mais de 1 hora, a espera exagerada da edição deste ano deixou o público cismado e apreensivo.
A multidão menos densa que no ano anterior – que confesso trouxe até um certo alívio! – recebeu de forma desconfiada a nova CEO com seu discurso de “defesa” ao fundador. Katherine Maher enfatizou que o evento sempre privilegiou a liberdade de expressão e opiniões adversas, mas que de fato, “temos que tomar cuidado com nossos comentários sobre temas complexos que exigem mais profundidade”. Enfim, deu-se a inauguração do evento sem a mesma atmosfera positiva e glamour do ano anterior.
No primeiro dia de programação completa, os setenta mil participantes – um pouco mais entusiasmados – encheram as plateias dos vários palcos espalhados pela enorme área do evento. Claro que a ausência das grandes empresas foi sentida, principalmente porque são elas que levam ícones do mundo hightech e grandes personalidades para apresentarem suas iniciativas. Porém, os participantes entenderam rapidamente que esse Web Summit seria diferente. Os palcos menores seriam mais disputados e mais interessantes que o próprio Center Stage, na gigante Altice Arena. Resultado: mais espaços para empresas pequenas, mais regionalizadas e com soluções menos óbvias.
Em termos de conteúdo, ao longo dos 3 dias, posso resumir em uma pequena sigla o tema que dominou o evento: AI.
Isso não quer dizer que não tenhamos visto pitchs de Web3 e metaverso mas, o que de fato dominou a pauta foi a Inteligência Artificial (AI em inglês e IA em português). Das trilhas (PandaConf, Masterclasses, Saas Monster, Content Makers e AI Academy) aos corredores de startups e Investor Lounge, vimos a tangibilização da buzzword do momento em soluções realmente disruptivas, por meio da combinação de GenAI, Machine Learning e aplicações especificas.
Sabemos que AI existe há anos, mas da forma que estamos utilizando atualmente é muito diferente! Se lembrarmos o formato e a finalidade com que a internet nasceu e compararmos o formato e as milhares de aplicações que temos hoje, podemos desconfiar que a evolução do formato “janelinhas” de um ChatGPT e um Midjourney, por exemplo, está apenas no início. Apenas para exemplificar, entre dezenas de soluções que conheci nessa viagem, sugiro que você gaste uns dez minutos para conhecer a MUTABOR.AI, solução que unifica as ferramentas existentes de AI em uma solução/plataforma de branding.
Muitas experiências darão certo e muitas darão errado, óbvio. Mas, que o mundo nunca mais será o mesmo, não temos nenhuma dúvida!
Um dos grandes desafios do Web Summit é a montagem da grade de palestras. São trilhares de apresentações, em palcos diferentes e distantes entre eles. E claro, torna-se também um desafio pessoal organizar suas escolhas de temas. Uma das formas de começar o seu planejamento de conteúdo, é consultando as palestras das trilhas, como a PandaConf, que tradicionalmente é dedicada a temas relacionados a marketing e vendas, com conteúdo de muita qualidade e, portanto, SUPER disputada. Quando vi que a Adidas e DJ Marshmellow estariam presentes para o lançamento da “adiCoin” imaginei que seria importante estar lá. Assim como eu, centenas de pessoas pensaram o mesmo e lotaram a plateia.
Tudo começa com um DJ que sobe ao palco e coloca músicas brasileiras para criar um ambiente alegre. Uma moça passa entre os corredores entregando um panfleto da adiCoin, onde consta um QRCode que te conecta direto ao site. Minutos depois, entra um suposto executivo da Adidas que conta a história da empresa, de forma debochada e com imagens fora do contexto do tema da palestra e do momento atual (soldados alemães da segunda mundial empunhando bandeiras com suástica?!). Achamos estranho, de mau gosto, mas até aí a ficha não caiu. Com apresentação de altíssima qualidade visual e com storytelling bem construído, ele apresenta a moeda digital da Adidas. A adiCoin remuneraria os trabalhadores de qualquer elo da cadeia de produção da empresa. Ele não deixa claro que a remuneração seria apenas no metaverso, assim, entendemos que seria um benefício adicional, mas, a verdade é que não entendemos claramente (após rever a minha gravação, percebi que realmente fica tudo meio no ar).
Em seguida, entra o DJ Marshmellow que, diferente do que foi divulgado, foi recebido sem grandes aplausos. Entra um grupo de dança, que performa trabalhadores se libertando das três listras características da marca e passam a performar uma dança para a nova música do DJ Marshmellow. Ao fundo, imagens do metaverso, onde os trabalhadores poderiam receber e usufruir seus adiCoins. Apesar da qualidade do som e do vídeo, as imagens eram grotescas! Não posso nem descrever. Acabou a apresentação com poucos aplausos e muitas pessoas confusas. Logo após, entrou outra apresentação, e as críticas e análises ficariam para depois.
Depois – Polêmica DJ Marshmellow/Adidas
No dia seguinte, com o Web Summit encerrado, o verdadeiro Dj Marshmellow pronuncia-se nas redes sociais dizendo que nunca esteve no evento e que não era ele no palco. Logo em seguida, a dupla de ativistas do “The Yes Men” assume a farsa. O objetivo? Protestar contra as condições laborais dos trabalhadores que fazem parte da cadeia de produção da Adidas. E assim, surge mais uma polêmica para o evento…
Como eles enganaram a organização do Web Summit? Como ganharam esse espaço tão nobre para protestar? Como chegaram tão longe? Não sabemos e tão pouco ouvimos qualquer resposta da organização. Ficamos muito perto dessa farsa e o que sentimos ao final foi uma insegurança enorme. Afinal, o palco poderia ter sido ocupado por ativistas violentos?
