Por Ana (Popy) Tozzi, CEO da AGR Consultores
Anualmente, em janeiro, o varejo brasileiro encontra-se em Nova Iorque para o NRF Retail’s Big Show. Pode parecer estranho, mas, é na cidade americana que os principais líderes se encontram para debater tendências, tecnologia, inovação, cultura e dezenas de assuntos em pauta no segmento. Visitar as principais lojas, das maiores marcas do mundo, conhecer as flagships abertas no último trimestre do ano anterior, que nos fazem mergulhar em um conhecimento espetacular e, finalmente, aprender novas tecnologias, completam a experiência.
Esse ano o tema central foi pautado em “Make it Matter”, expressão americana que descrevo como: incentivar pessoas a garantir que suas ações, decisões e esforços tenham impacto significativo na empresa, na sociedade e até na humanidade. Talvez a melhor tradução seria “fazer acontecer”.
Terminou nesta terça-feira (16) o evento e detalharei alguns insights: a explosão da utilização de A.I., o “novo varejo” pautado em “fun and vibe”, o poder de transformação da Gen Zalpha e a “humanização” como gestão de pessoas.
As aplicações de Inteligência artificial dominaram os stands e muitas palestras nesses 3 dias. O foco em eficiência logística deixa claro que esse é o momento de “fazer acontecer” custos menores e margens maiores. Eficiência que o varejo abriu mão na pandemia e que agora busca com resultados ainda melhores aos anos que antecederam a Covid.
Os espaços de exposição da NRF privilegiaram os principais players de tecnologia do mundo: SAP, Oracle, Google, Meta, Amazon, IBM e Microsoft. Mas, não deixam de ter centenas de soluções incríveis e desconhecidas por nós no Brasil. As tecnologias com captura de imagem do produto estão presentes nas soluções de caixa, na leitura de prateleiras (com foco em reduzir ruptura), na movimentação de mercadoria em centro de distribuição e até contribuindo para proliferação de lojas autônomas como Amazon Go.
Soluções de vitrines com imagens 3D, até com possibilidade de conversar com o consumidor, buscam eficiência no visual merchanding, permitindo que ao longo dia a loja tenha vitrines adequadas ao horário, à localização, ao clima e às promoções. Uma infinidade de novas aplicações com inteligência artificial embarcada.
O consenso por aqui é de que o varejo americano ficou chato! Funcional como o site, sem emoções. Voltar a ser um ponto de encontro e de diversão é urgente. Começo pela operação mais surpreendente, a Swarovski. O novo modelo de loja inspirado em uma caixa de joias, com a nova coleção de diamantes, totalmente desenvolvidos em laboratório, reposiciona a marca centenária. Uma ousadia que a empresa se atreveu a cumprir e que tem colhido resultados significativos com crescimento de vendas de 2 dígitos.
A Pet&Co segunda visita imperdível, abriu uma flagship na Union Square com serviços de veterinário, banho e um BarkShop – uma barbearia para seu pet! Garanto que mesmo que você não tenha um pet, você sairá de lá com uma sacolinha. Enfim, não posso deixar de destacar a Crate & Barrel e a Wegmans, que alimentam a criatividade do consumidor com novas experiências. Ambas resgatam o fun&vibe do varejo com lojas lindas, tecnológicas e cheias de personalidade e emoção.
Fonte de curiosidade e destaque nos últimos anos, a GenZalpha (expressão que a VP da Claire’s, Kristin Patrick, cravou no evento) mistura da geração Z e Alpha tem sido foco de estudos mais profundos e obviamente alvo de muitas marcas. Com muita transparência, canais de relacionamento direto, como TikTok e influencers, Crocs e Clarie’s voltaram aos corações e às carteiras dos consumidores. Em 2022, mergulhamos nas características e oportunidades que essas gerações nos trazem, em 2023 e 2024 estamos acompanhando de perto a execução das ações orientadas a esse público. Até sobre a tendência dessa geração querer ter filhos mais velhos e a oportunidade de soluções para congelar óvulos falamos por aqui.
Preciso terminar esse artigo com o peso dado à “humanização” das relações, quer sejam elas no ambiente profissional, familiar ou entre amigos. Em diversos momentos do evento, líderes e empreendedores enfatizaram a necessidade de nos aproximarmos de pessoas. Magic Johnson e Drew Barrymore revelaram que o sucesso de seus negócios está pautado na relação com família, com os seus times e seus sócios. Kyle Leahy, CEO e founder da Glossier, e Shay Mitchell, CEO da Béis, debateram sobre uma sociedade carente de relações próximas. Fundador da DICK’s Sporting Goods, Edward Stack, sela o assunto com: envolva-se, aproxime-se do seu time e escute, “Não se apaixone por si mesmo, ao ponto de ficar cego a tudo e a todos à sua volta”, esse foi meu erro! — referindo aos piores anos da empresa na década de 90.
Claro que desdobraremos ao longo do ano muitos outros temas debatidos nesta edição. Mas, por hora, me despeço, já ansiosa pela NRF 2025, que será a minha 20ª!